(Programa Leilões/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 7 de junho de 2025 às 06h05.
Última atualização em 7 de junho de 2025 às 06h29.
É possível viver em um mundo sem vacas? Essa é a pergunta central do documentário World without cows, de Mark Lyons, CEO da Alltech, multinacional especializada em biotecnologia e soluções para o setor agropecuário.
Realizado após três anos de pesquisa, o documentário mostra que, ao tentar substituir as terras usadas para pastagem por outros tipos de cultivo, o resultado foi desastroso.
Segundo Lyons, embora a indústria agropecuária enfrente grandes desafios ambientais, a ausência dos ruminantes, como as vacas, teria impactos ainda mais severos para o meio ambiente.
"O impacto ambiental será de 8 a 15 vezes maior. Nosso ecossistema funciona de maneira equilibrada, e tanto o boi quanto a vaca leiteira têm um papel fundamental nesse equilíbrio", afirmou o executivo à EXAME durante o Global Agribusiness Festival (GAFFF).
LEIA MAIS: Os novos portos da carne brasileira, segundo Roberto Perosa
O documentário, dirigido pelos jornalistas Michelle Michael e Brandon Whitworth, foi lançado oficialmente em abril nos Estados Unidos e, segundo o CEO, será exibido durante a COP 30, que acontecerá em Belém, em novembro deste ano.
Para a produção do filme, a equipe de diretores e técnicos percorreu mais de 40 locais nos EUA, Brasil, Chile, Alemanha, Índia, Quênia, Holanda, Singapura e Reino Unido.
O objetivo era mostrar o verdadeiro impacto do gado nas discussões sobre mudanças climáticas, o futuro da alimentação global e as potenciais consequências de sua remoção.
O longa é um projeto da Planet of Plenty, plataforma da Alltech dedicada a promover iniciativas educacionais baseadas na ciência, criar conscientização e contar histórias que ampliam o papel da agropecuária na criação de um futuro sustentável.
Mark herdou a Alltech após a morte de seu pai, em 2018. Ele morou no Brasil, em Curitiba, de 2003 a 2007, o que explica sua fluência em português — a Alltech, com sede em Maringá (PR), possui unidades industriais, centros de distribuição e pesquisa também em São Paulo, Goiás e Mato Grosso.
A primeira fábrica da empresa no Brasil foi inaugurada em 2007, em São Pedro do Ivaí, no Paraná. Atualmente, é o maior complexo de leveduras do mundo dedicado à agropecuária.
Em 2024, a companhia faturou R$ 2 bilhões no país. Segundo Lyons, a empresa planeja investir R$ 120 milhões em 2025 e 2026 para modernizar essa fábrica.
No Brasil, um dos maiores produtores de carne bovina do mundo, o debate sobre a emissão de metano gerado pelos ruminantes é constante, principalmente com a crescente pressão por práticas mais sustentáveis.
O rebanho bovino do país cresceu 1,6% em 2023, atingindo 238,6 milhões de cabeças, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2024, o Brasil exportou 2,9 milhões de toneladas de carne bovina, um aumento de 26% em relação a 2023, com receitas de US$ 12,9 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).
Lyons acredita que, em vez de eliminar os animais, o setor deve investir em tecnologias para reduzir o impacto ambiental. O executivo destaca que o documentário evita a dicotomia de "bom versus mal" em relação ao gado.
"O objetivo do filme não é convencer ninguém a adotar uma única visão, mas sim abrir a mente para uma conversa mais ampla sobre o futuro da agropecuária e seu papel no meio ambiente", afirma.
Ele reforça que o filme não nega a mudança climática, mas propõe alternativas para mitigar os eventuais impactos ambientais da produção pecuária. "O uso de tecnologias para melhorar o desempenho dos animais, por exemplo, como suplementos alimentares e manejos mais eficientes, pode reduzir a emissão de gases poluentes", diz.
O CEO não revela o valor investido na realização do filme, mas garante que o montante está na casa dos "milhões de dólares". Segundo ele, a Alltech negocia com plataformas de streaming para exibir o documentário, mas a ideia é exibi-lo também em festivais ao redor do mundo.
"As inovações precisam ser feitas em conjunto com os produtores. Não se trata de impor mudanças, mas sim de trabalhar ao lado deles, fornecendo as ferramentas certas para poderem ser mais eficientes e sustentáveis em suas práticas", finaliza.