Lula e Macron: líderes discutem acordo Mercosul-UE, diplomacia internacional e desafios globais, como a guerra na Ucrânia (Ludovic Marin/AFP)
Redação Exame
Publicado em 5 de junho de 2025 às 09h34.
Na manhã desta quinta, 5, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Paris, ao lado do presidente francês Emmanuel Macron, destacou sua intenção de concluir o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia nos próximos seis meses.
Lula, que assumirá a presidência do Mercosul a partir de amanhã, 6 de junho, afirmou que pretende utilizar os próximos meses à frente do bloco sul-americano para finalizar as negociações com a União Europeia, que já se arrastam por vários anos.
"Eu assumirei a presidência do Mercosul no próximo dia 6 e, ao assumir a presidência, o mandato é de seis meses. Eu quero lhe comunicar que não deixaria a presidência do Mercosul sem concluir o acordo com a União Europeia. Portanto, meu caro, abra o seu coração para a possibilidade de fazer esse acordo", disse Lula durante a visita de Estado a Paris.
O presidente francês, Emmanuel Macron, reconheceu os benefícios do acordo, mas levantou preocupações, especialmente sobre os impactos para os agricultores ses, enfatizando a necessidade de garantir cláusulas que protejam as normas ambientais e fitossanitárias.
"A França defende o comércio livre e justo, então somos favoráveis à negociação desses acordos. Esse acordo no momento estratégico é bom para muitos setores, mas traz risco para agricultores de países europeus", afirmou.
Na sequência, acrescentou que há diferenças são sobre as normas do uso de agrotóxico.
"Há diferença grande de normas ainda (sobre agrotóxicos). Devemos melhorar para que haja cláusulas de garantias. Precisamos respeitar a coerência das nossas ambições, de defesa do clima. Precisamos melhorar esse texto. Podemos fazer isso".
Além das negociações comerciais, outro tema importante na agenda de Lula e Macron é a guerra na Ucrânia, que continua a ser um dos maiores desafios para a política internacional.
A França, que apoia a Ucrânia na guerra contra a Rússia, espera que o Brasil, enquanto presidente do BRICS, utilize sua influência para apoiar uma solução diplomática para o conflito.
Lula, por sua vez, expressou sua preocupação com os desdobramentos do conflito, mas manteve a posição de que o Brasil continuará a defender o diálogo entre as partes.
"A guerra na Ucrânia é uma tragédia para todos os envolvidos. O Brasil acredita que o caminho para a paz deve ser a diplomacia e o diálogo entre as nações", afirmou Lula.
A visita de Lula à França também é um marco na reaproximação bilateral entre os dois países, que foi enfraquecida durante o governo de Jair Bolsonaro. Desde que Lula retornou ao poder, a relação com a França tem se fortalecido, e temas como meio ambiente, energia, tecnologia e defesa estão na pauta das negociações.
Em março de 2024, o presidente francês Emmanuel Macron também visitou o Brasil, com foco na Amazônia e na construção de submarinos ses Scorpène para a Marinha Brasileira.
No contexto da visita de Lula, Macron ressaltou que a França vê o Brasil como um parceiro estratégico, especialmente diante das pressões globais e das tensões comerciais com os Estados Unidos, liderados por Donald Trump. A visita de Lula é vista como uma oportunidade para reafirmar os laços e avançar em áreas de cooperacão internacional.
Outro ponto importante na conversa entre os dois líderes foi a lei antidesmatamento da União Europeia, que entra em vigor em dezembro de 2025.
A legislação proíbe a importação de produtos oriundos de áreas desmatadas, independentemente de serem legais ou ilegais, a partir de 31 de dezembro de 2020. Produtos como café, soja, carne bovina, óleo de palma e madeira são diretamente afetados pela nova regra, o que tem gerado preocupações no governo brasileiro.
Lula expressou sua insatisfação com a lei e deixou claro que discutirá o impacto dessa medida com Macron. A França, por sua vez, defende uma abordagem ambientalmente sustentável, alinhada com as normas da União Europeia sobre agrotóxicos e práticas de preservação ambiental.
Além das discussões sobre o acordo Mercosul-UE e o aquecimento global, a visita de Lula à França também abordou cooperacão em áreas de tecnologia, defesa e energia.
O Brasil e a França devem acordos estratégicos nas próximas semanas, com destaque para uma possível parceria no setor energético e a continuidade do projeto de construção dos submarinos Scorpène.
*Com O Globo.