Rafael Aquino, fundador da DataPay: "“Vamos democratizar o uso inteligente de dados" (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 7 de junho de 2025 às 09h32.
Última atualização em 7 de junho de 2025 às 09h43.
Gramado (RS) — Rafael Aquino não tinha investidor, nem escritório, nem time parrudo. Tinha só uma ideia e a vontade de colocá-la no mundo. Começou disputando batalhas de startup no interior do Rio Grande do Sul para promover um algoritmo capaz de ler expressão facial e entregar anúncios mais eficientes. Aos 27 anos, vendeu a empresa por R$ 12 milhões.
Dois anos depois, aposta em um novo projeto: um marketplace de dados que promete devolver ao consumidor o controle sobre seus próprios dados. A meta é transformar a ideia numa empresa de R$ 1 bilhão (e vendê-la).
“Começamos com R$ 200 no bolso e uma ideia que parecia maluca. Vendemos por R$ 12 milhões. Agora quero repetir o jogo, mas em escala maior”, diz Aquino.
A história começou em Caxias do Sul, na serra gaúcha. Criado até os seis anos num abrigo, Aquino se formou em ciência da computação e viu na tecnologia o caminho para empreender. Ao lado dos sócios Rafael Guizo e Tainá Marques, fundou a Hubble 360 com uma proposta de usar inteligência artificial para analisar micro expressões faciais em tempo real e otimizar campanhas de marketing digital com base na reação do público.
Sem recursos para bancar eventos de grande porte, o trio apostou nas batalhas locais de startups. A primeira vitória veio em uma competição em Caxias, que garantiu vaga na etapa estadual durante o Gramado Summit 2023. A Hubble saiu vencedora também ali, conquistando entrada para a final nacional do Startup Summit, em Florianópolis.
O destaque abriu portas. Aquino levou a startup ao palco do Shark Tank Brasil. Embora não tenham recebido aporte, conquistaram um cliente estratégico que serviu como vitrine.
“O segredo não é só a tecnologia, é a estratégia. E, principalmente, a rede de conexões que você constrói ao longo do caminho”, diz Aquino.
Com contratos ativos e faturamento mensal de cerca de R$ 250 mil em s da solução, a Hubble acabou sendo comprada por uma multinacional americana por R$ 12 milhões.
"A empresa que comprou a Hubble não quis escalar a operação comercial. Eles internalizaram a tecnologia dentro da estrutura deles como diferencial competitivo", explica Aquino.
Após sair da operação da Hubble, Aquino fundou um novo negócio ambicioso. Ao lado dos sócios Patrícia Janczak e Rafael Wainberg, criou o DataPay, um marketplace de dados que promete devolver ao consumidor o poder sobre seus dados.
Na proposta, cada pessoa pode guardar seus dados em um cofre digital e decidir, com transparência, para quem vender. Em troca, recebe via Pix ou ganha moedas digitais que podem ser convertidas em descontos, experiências ou dinheiro. Tudo dentro das regras da LGPD.
O projeto já soma mais de 3.500 usuários e testes com cinco grandes marcas do Sul. A primeira parceria estratégica é com uma varejista de 180 lojas no Rio Grande do Sul. A DataPay também será usada em eventos, permitindo que patrocinadores mensurem em tempo real o impacto de suas ações promocionais.
A startup oferece às empresas não só dados, mas inteligência preditiva e segmentação estratégica, com apoio de inteligência artificial.
“Vamos democratizar o uso inteligente de dados para empresas de todos os portes — algo ainda fora do radar de muitos negócios regionais”, diz Aquino.
A estratégia de tração mistura marketing de influência, gamificação e benefícios personalizados para cada perfil de público. Para consumidores, a proposta pode significar renda extra no fim do mês ou vantagens exclusivas com marcas que já consomem. Para as empresas, significa dados qualificados com rastreabilidade e autorização clara do usuário.
A meta de Aquino é transformar o DataPay em uma solução usada por 150 milhões de brasileiros e vender o negócio por R$ 1 bilhão. Se repetir o feito da Hubble, o caminho já está bem traçado.
*A jornalista viajou a convite da Gramado Summit.