'Pig': a redenção de Nicolas Cage no cinema ('Pig'/ Neon Productions/ Divulgação)
Repórter de POP
Publicado em 27 de maio de 2025 às 14h07.
Em meio a lançamentos grandiosos e blockbusters barulhentos, um filme discreto, de 2021, tem conquistado espaço na crítica. "Pig", estrelado por Nicolas Cage, acumula 97% no Rotten Tomatoes, site que avalia produções cinematográficas. E foi renascido nas redes sociais.
O filme veio como uma renovação do ator da própria imagem na sétima arte, anos após assumir papéis em inúmeras produções de comédia e baixo orçamento, e abriu portas para papéis mais maduros — "O Homem do Sonho", da A24, é um bom exemplo.
Cage recebeu cinco indicações à Framboesa de Ouro — premiação avessa, que reconhece os piores filmes do ano —, e estrelou em títulos que se tornaram fracassos de bilheteria, como "O Aprendiz de Feiticeiro" e "Fúria sobre Rodas". Em entrevista à Variety, em 2022, explicou que as decepções na carreira fizeram com que ele fosse "marginalizado pelos estúdios". "Pig" foi sua salvação para a retomada em circuitos independentes.
A trama acompanha Rob, um ex-chef renomado que abandonou a vida agitada para viver em isolamento na floresta de Oregon, acompanhado apenas por seu porco farejador de trufas — o seu mais precioso amigo. Quando o animal é roubado em um assalto violento, Rob volta para a cidade para recuperá-lo, mas a jornada vai muito além da busca pela fera.
Cage conquistou o papel graças ao cineasta Michael Sarnoski, a quem ele chama de "Acarcanjo Miguel". “Soube em algum momento, depois de alguns fracassos, que tinha sido marginalizado no sistema de estúdios e não seria convidado por eles. Sempre soube que seria necessário um jovem cineasta que voltasse, se lembrasse de alguns filmes que fiz, soubesse que talvez eu estivesse certo para o seu roteiro e me redescobrisse. Ele foi a minha salvação”, disse o ator à Variety.
Diferente do que a premissa possa sugerir, "Pig" não é um thriller de vingança típico, tampouco uma comédia autoirônica. O diretor Michael Sarnoski, também responsável por "Um Lugar Silencioso: Dia Um", opta por um filme que privilegia o minimalismo e a introspecção. O resultado é uma obra que se desenrola como um estudo de personagem à moda dos anos 1970.
Para além da jornada em busca do porco, o longa é uma viagem dolorosa pelo luto, pela memória e pelo reencontro consigo mesmo, marcada pela silenciosa tensão e pela força emocional contida nas atuações de Cage. O trabalho resgata o brilho de alguns de seus melhores papeis, em produções como em "Cidade dos Anjos" (1998), "Red Rock West" (1993) e "a Outra Face" (1997).
A duração enxuta, de 92 minutos, contribui para que cada palavra, olhar e silêncio tenham peso, sem desperdício. "Pig" é uma meditação sobre o que resta quando o essencial se perde, uma obra que fala sobre identidade e perda através de um objeto inusitado: o porco farejador, símbolo do vínculo, da memória e da humanidade que resiste apesar da dor.
Matt Zoller Seitz, do site RogerEbert.com, destaca que o filme “desafia as expectativas” e que ator alcança uma interpretação “sincera e profundamente comovente”, enquanto Sheri Linden, do The Hollywood Reporter, aponta a química entre Cage e Alex Wolff, que interpreta Amir, um jovem relutante parceiro na missão de Rob, como um dos pontos altos da narrativa.
Michael Nordine, da Variety, ressalta que o filme consegue “soar estranho e ao mesmo tempo realista” e que Cage transforma cada momento bizarro em algo profundamente humano — seja nos encontros em clubes subterrâneos de luta clandestina ou nos títulos de capítulos que carregam nomes de receitas culinárias. Essa combinação inesperada entre o surreal e o palpável cria uma atmosfera única, que permanece na mente do espectador muito tempo após os créditos finais.
O filme estrelou nos cinemas brasileiros em 2022 e entrou para o catálogo da Netflix dos Estados Unidos em maio deste ano. A expectativa é que o título seja exibido, em breve, no streaming brasileiro.